OS BASTIDORES DA LUTA DE LULA CONTRA O CÂNCER: A luta do ex-presidente Lula contra um tumor maligno na laringe será difícil, com efeitos colaterais devastadores. Até agora, ele tem enfrentado tudo com transparência
O ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva comemorou seu 66° aniversário, em 27 de outubro último, uma quinta-feira, do jeito que ele gosta. À tarde houve uma festinha no Instituto Lula, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Teve Parabéns a você, velinhas e bolo. À noite, no salão de festas de seu apartamento em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, celebrou de fato a data. Estava cercado pelos amigos da República Petista - Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência; os ministros Guido Mantega, da Fazenda; Fernando Haddad, da Educação; e Miriam Belchior, do Planejamento. Entre os governadores, marcaram presença Marcelo Déda, de Sergipe, e Jaques Wagner, da Bahia. Circulava por lá também José Dirceu, seu ex-ministro da Casa Civil. A comida foi pizza, fornecida pelo delegado Osvaldo Gonçalves Nico, dono de um restaurante na capital paulista, e a bebida, uísque e refrigerante. Seu médico e amigo, o cardiologista Roberto Kalil, foi um dos últimos a chegar, por volta das 10 horas.
Há vinte tipos de câncer de laringe, com 150000 novos casos por ano no mundo - dos quais 10000 no Brasil. O de Lula, carcinoma epidermoide, é o mais comum e também um dos mais agressivos. Sem tratamento, o tumor pode dobrar de tamanho em apenas dois meses. Em comparação aos cânceres que afetam outras partes do corpo, o de Lula é tido como de agressividade média. É mais violento do que muitos dos de intestino, por exemplo, que podem levar dois anos para duplicar sua área, mas mais indolente, ou de expansão muito mais lenta, do que algumas leucemias e melanomas, cuja evolução se conta em poucas semanas. Os tumores de laringe costumam atingir poucos nervos sensitivos. Ou seja, praticamente não provocam dor. A falta de sintomas faz com que 50% deles sejam diagnosticados em estágios avançados, quando já atingiram outros órgãos. Classificado entre os estágios T2 e T3 (o último é o T4), o câncer de Lula dava indícios de que poderia se alastrar até fevereiro. Em processo de metástase, os tumores de laringe se espalham mais frequentemente para o pulmão. Se esperasse para fazer os exames só depois de desfilar no Carnaval, como queria, Lula teria de enfrentar um inimigo praticamente invencível.
O câncer de Lula foi classificado pelos médicos como "localmente avançado". Ou seja, o tumor é grande, mas ainda está confinado à laringe. Nesses casos, a cirurgia costuma ser a primeira opção de tratamento: é rápida, e em um mês, em média, o paciente pode retomar suas atividades cotidianas. Em quadros como o de Lula, no entanto, a extração cirúrgica do tumor pode deixar sequelas graves. A pior delas é a perda da potência da voz - o que para um político (e, em especial, um político como Lula) representaria uma tragédia. Com 3 centímetros de comprimento, 2 de largura e 2 de espessura, o tumor do ex-presidente ocupa quase metade da laringe. Em uma de suas extremidades, esbarra por um ponto milimétrico na junção das duas cordas vocais (veja o quadro na pág. 80). Para que a voz não fosse prejudicada em uma cirurgia, o câncer deveria estar a uma distância de pelo menos 3 milímetros das cordas vocais. Os médicos temem controlar o câncer de Lula com um tratamento pesadíssimo, cujas chances de cura giram em torno de 80%, o mesmo índice atingido pela cirurgia. Na etapa inicial, o ex-presidente será submetido a quimioterapia. Serão três sessões, de 126 horas cada uma, a cada 21 dias. As seis primeiras horas de cada ciclo serão passadas no hospital. As outras 120, em casa, sob a supervisão de uma enfermeira nos períodos da manhã e da tarde. Nesse período, Lula tem de carregar uma espécie de pochete na cintura, a qual contém um dispositivo que bombeia os medicamentos ininterruptamente. Até o fim da semana passada, o ex-presidente passara relativamente bem pelo primeiro ciclo de químio. O primeiro sintoma dos medicamentos foi sentido na manhã de sexta-feira. Ele acordou enjoado, mas não chegou a vomitar. Entre o fim de dezembro e o início de janeiro, começará a segunda fase da batalha contra o câncer, por meio da combinação de rádio e quimioterapia. Os efeitos colaterais devem se tornar mais severos: além de enjoos, perda dos cabelos e pelos, vômitos, tontura, falha auditiva, entre outros. O tratamento poderá mudar se, no fim de novembro, terminado o segundo ciclo de químio, o tumor não regredir, no minimo; 50%. Sem essa melhora, o ex-presidente deve ser encaminhado para a cirurgia. Na literatura médica, a probabilidade de a quimioterapia não conter o tumor é de 10%.
As células do câncer de laringe costumam responder melhor à radioterapia. A químio só entrou para os protocolos médicos como opção de tratamento nos anos 90. No começo, ela era usada somente antes da rádio (na primeira fase do tratamento, portanto). O recurso de associar medicamentos quimioterápicos à radioterapia, na segunda fase, é o que existe de mais novo no combate ao câncer de laringe. Tal conduta passou a ser utilizada pelos oncologistas em 2007. A medicação quimioterápica, além de agir por todo o organismo combatendo possíveis focos de câncer que possam ter escapado da laringe, tem como objetivo, no caso desse tipo de tumor, enfraquecer as células doentes para o ataque da radioterapia.
O câncer de laringe está ligado a quatro principais fatores de risco, nesta ordem: cigarro, álcool, genética e refluxo gástrico. O tabagismo aumenta a probabilidade de desenvolvimento da doença em dez vezes. Lula fumou por cinquenta anos. Fumante inveterado, chegou a consumir dois maços de cigarro por dia, nas últimas décadas. Aqui um parêntese: Marisa ainda mantém o hábito, tragando, em média, vinte cigarros por dia. No dia em que o ex-presidente teve alta, em 1º de novembro, ela apareceu na janela (fechada) do apartamento de São Bernardo do Campo ajeitando uma cortina com um cigarro entre os lábios. Para os médicos, o ex-presidente diz ter abandonado por completo o vício em 28 de janeiro de 2010. Naquele dia, Lula teve de desistir de uma viagem a Davos, na Suíça, onde receberia o prêmio de estadista do ano concedido pelo Fórum Econômico Mundial, por causa de uma crise de hipertensão, uma condição associada ao cigarro. O ex-presidente sofre também de refluxo gástrico, condição em que os ácidos estomacais sobem e queimam os tecidos do esôfago e da laringe. Quanto à bebida, aprecia uísque, cachaça e cerveja. No domingo 30, Lula anunciou à família: "Vou tomar um último conhaque antes do tratamento".
O ex-presidente é avesso a cuidados médicos e, não raro, adia exames exigidos pelos especialistas. No dia em que sofreu um pico de pressão alta em 2010, Lula tentou postergar o check -up pedido por seu cardiologista. No entanto, desde que entrou no hospital para ser tratado do câncer, no último dia 31, o ex-presidente vem se revelando um paciente obediente. Ainda no centro cirúrgico, ao acordar da cirurgia de implantação do cateter pelo qual os remédios quimioterápicos seriam infundidos, sua primeira pergunta aos médicos e enfermeiros foi: ""Ainda vou ficar mais tempo nesta sala?". Diante da resposta de que teria de permanecer por mais alguns minutos, ele quis saber se Marisa estava bem e, em seguida, falou: "Vou dormir mais um pouquinho". Em todas as ocasiões que teve de circular pelos corredores do hospital, Lula pediu para usar touca e máscara azuis, para não ser reconhecido.
A transparência com a qual o ex-presidente enfrenta a doença é admirável. Desde o momento em que soube do câncer, ele pediu aos médicos que não escondessem nada sobre seu estado clínico. Antes de deixar o hospital, na terça-feira, Lula decidiu gravar uma mensagem de agradecimento às manifestações de carinho. No vídeo feito ainda no quarto 1125 do Sírio-Libanês, ao lado de Marisa, o ex-presidente disse estar preparado para enfrentar mais uma batalha ("nem a última, nem a primeira") e conta com a solidariedade de todos. Não perdeu também a oportunidade de resvalar no uso político da doença. Em tom messiânico, defendeu: "Precisamos continuar acreditando no país. Temos de acreditar na nossa presidente. Sem perseverança, a gente não consegue nada. Afinal de contas, eu vim para a Terra para lutar e melhorar a vida de todo mundo. Estou doido para falar "meus companheiros e companheiras" mais forte, mas não estou podendo ...". Os brasileiros querem vê-lo restabelecido, mas não porque ele seja fiador da estabilidade política ou do desenvolvimento do país. Lula é simplesmente um ser humano. Deveria bastar.
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